Rentabilidade real nos títulos do Tesouro IPCA+

Há duas questões sobre a rentabilidade dos títulos do Tesouro IPCA+ que devem ser levadas em conta: primeiro é o equivoco em achar que os juros compostos se dá pela soma do IPCA e da taxa acordada e segundo sobre a aplicação do Imposto de Renda sobre ambas as taxas (IPCA e taxa prefixada). Vamos analisar essas questões com calma a seguir.

Quando um título é vendido, por exemplo como IPCA+5%, instintivamente consideramos a soma dos valores. Se o IPCA for 5%, passamos a acreditar que obteremos uma rentabilidade de 10%. Porém não é bem assim que os juros compostos funcionam, a fórmula da rentabilidade real se dá da seguinte forma:

rentabilidade real = ((1 + rentabilidade total) ÷ (1 + inflação)) - 1

Vamos supor que você realizou um investimento IPCA+ no Tesouro Direto e após 1 ano você obteve a rentabilidade liquída de 10% (já descontado o imposto de renda), incluindo uma inflação hipotética neste mesmo ano de 5%. Considerando a fórmula e os valores mencionados, teremos:

rentabilidade real = ((1 + 0,1) ÷ (1 + 0,05)) - 1
rentabilidade real = (1,1 ÷ 1,05) - 1
rentabilidade real = 1,0476 - 1 = 0,0476 =
4,76%

Portanto, neste cenário houve um rendimento real de 4,76% e não de 5% se tivessemos apenas subtraído 5 de 10. Porém neste cenário já sabiamos o rendimento liquído após 1 ano e apenas descontamos a inflação.

Agora vamos considerar um cenário onde gostariamos de saber quanto seria obtido após um período de tempo. Por exemplo, qual seria o rendimento total considerando uma taxa acertada de IPCA+6% na compra e inflação de 4% no ano após 1 ano?

Reordenando a fórmula:

rentabilidade total = ((1 + rentabilidade real) x (1 + inflação)) - 1

Considerando os valores mencionados, teremos:

rentabilidade total = ((1 + 0,06) x (1 + 0,04)) - 1
rentabilidade total = (1,06 x 1,04) - 1
rentabilidade total = 1,1024 - 1 = 0,1024 =
10,24%

Neste cenário a rentabilidade total foi maior do que se tivessemos somado 6 + 4, porém não podemos esquecer que essa é a rentabilidade bruta e não liquída. Utilizando a tabela de Imposto de Renda, podemos ver que após 1 ano, se o investidor optar pelo resgate, há uma taxa de 17,5%:

Tabela da alíquota regressiva do Imposto de Renda.
AlíquotaPrazo (dias)
22,5%180 ou menos
20%181 a 360
17,5%361 a 720
15%721 ou mais

Assim, após aplicar 17,5% sobre os 10,24%, ficaremos com:

(1 - 0,175) x (0,1024) = 0,08448 = 8,448%

Aqui é importante destacar que o Imposto de Renda incide sobre ambas as taxas (o IPCA e a taxa prefixada de 6%), em cenários de hiperinflação, a aplicação do imposto pode acabar quase totalmente com a rentabilidade real desse título.

Por fim, descontando a inflação de 4%, teremos:

rentabilidade real = ((1 + 0,08448) ÷ (1 + 0,04)) - 1
rentabilidade real = (1,08448 ÷ 1,04) - 1
rentabilidade real = 1,0427 - 1 = 0,0427 =
4,27%

Portanto, o investimento IPCA+6% com inflação anual de 4%, renderia na verdade 4,27% acima da inflação (rentabilidade real).

Para encerrar nossa análise, vamos considerar um cenário de hiperinflação. Vamos manter IPCA+6% porém com inflação de 30% ao ano:

rentabilidade total = ((1 + 0,06) x (1 + 0,3)) - 1
rentabilidade total = (1,06 x 1,3) - 1
rentabilidade total = 1,378 - 1 = 0,378 =
37,8%

Após 1 ano obteríamos 37,8% de rendimento total. Agora, aplicando o Imposto de Renda de 17,5%, vamos ficar com:

(1 - 0,175) x (0,378) = 0,31185 = 31,185%

E para calcular a rentabilidade real iremos descontar a inflação de 30%:

rentabilidade real = ((1 + 0,31185) ÷ (1 + 0,3)) - 1
rentabilidade real = (1,31185 ÷ 1,3) - 1
rentabilidade real = 1,00911 - 1 = 0,00911 =
0,911%

Ou seja, o título que deveria render 6% ao ano acima da inflação, na verdade terá rentabilidade real menor que 1% (0,911%).

Conclusão

O investimento em IPCA+ apresenta vantagens e desvantagens. É um título interessante para compor a sua carteira de investimentos por oferecer proteção contra a inflação, porém a rentabilidade real nem sempre é clara. Além disso, em um cenário de hiperinflação, a proteção oferecida pelo investimento é limitada apenas à desvalorização causada pela inflação, sem proporcionar ganhos significativos no poder de compra do investidor.

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